Você quer inovar, mas não sabe o que dizer para os investidores ou para o financeiro da sua própria empresa? Já está inovando, mas não consegue descobrir se isso dá dinheiro? Escrevo para lhe avisar: existe, sim, um ROI de inovação – e é super possível medí-lo.
Falarei sobre esse tema no decorrer deste artigo.
Aqui, registro informações e orientações práticas para o cálculo do seu retorno, além de destacar dados relevantes.
E já me antecipo em dizer: quem calcula o ROI de inovação quase automaticamente se coloca à frente da concorrência.
Vamos por partes!
Como anda a inovação no Brasil hoje em dia? Resposta em porcentagem
Antes de você pensar no ROI da inovação do seu negócio, visualize o panorama geral: cerca de 30% das empresas brasileiras ainda não têm mecanismos estruturados para mensurar resultados de iniciativas inovadoras. As que fazem alguma medição começaram a agir nos últimos dois anos.
Esses dados aparecem no levantamento ROI na Inovação – Benchmark Report 2025 da Match IT.
Além deles, destaco que, só em 2024, quase 90% das grandes indústrias nacionais já usavam pelo menos uma tecnologia digital avançada, como Inteligência Artificial ou nuvem, segundo a Pesquisa de Inovação Semestral do IBGE.
E faço questão de dizer: eu sei o que você sente. A pressão para uma companhia inovar só aumenta a cada dia e, não à toa, uma pesquisa feita com executivos ao redor de todo o Brasil indica que pelo menos 70% pretendem aumentar investimentos em IA e outras inovações nos próximos anos.
Percebe como agir “pra já” está deixando de ser opcional e virando uma condição de sobrevivência?
É isso o que quero destrinchar nos próximos tópicos – pensando em lhe auxiliar numa tomada de decisão de negócio, não numa tese acadêmica.
Sem rodeios, o que é o ROI de inovação?
O retorno sobre investimentos feitos em inovações é a aplicação da lógica tradicional de ROI a projetos que envolvem novos produtos ou serviços; novos modelos de negócio; automações, IAs, P&D, iniciativas e open innovatione open innovation etc.
Novas receitas, margens melhores, custos menores, eliminação de riscos, captação e retenção de talentos, uso estratégico de dados... Tudo isso por ser ROI de inovação!
E cabe a você entender qual análise faz mais sentido para a sua empresa – algo que muitos gestores ainda não captaram.
Em 2024 e 2025, apenas 25% das iniciativas de IA, em média, no mundo, alcançaram o ROI esperado por quem as idealizou. Somente 18% superaram o custo de capital, conforme a TechRadar Pro.
São pouquíssimas as instituições que conseguem extrair valor mensurável de seus investimentos, mas não porque não estão fazendo direito, e sim porque não estão medindo o ROI de forma consistente
Talvez ainda falte clareza em relação aos pilares do ROI de inovação, então, convido-o a conhecê-los melhor. Siga em frente.
Os 5 pilares essenciais do ROI de inovação
ROI e valor agregado têm tudo a ver: para saber quanto você ganha em retorno à projetos inovadores, não basta só descobrir quanto “volta” (em cifras). É fundamental considerar os cinco pilares desta lista:
- Impacto financeiro direto
- Eficiência e produtividade
- Redução de riscos
- Ativos intangíveis
- Governança e alinhamento estratégico
Quando diretamente ligada à governança e capaz de causar impactos positivos, a inovação é lucrativa, sim.
Além disso, empresas inovadoras costumam ser mais enxutas e rápidas, não correm riscos de ficar para trás ou enfrentar problemas regulatórios e tampouco dependem de poucos clientes e fornecedores.
E destaco, ainda, que essas mesmas empresas têm muito mais ativos intangíveis do que outras (dados, talentos, processos pensados em prol da escalabilidade etc.).
Todos esses pilares vão compôr o cálculo do retorno sobre cada investimento.
Na prática, como calcular e medir ROI de inovação?
Para começar, sugiro que você passe a tratar seu retorno sobre investimentos em inovação pela sigla ROII, esclarecendo para si mesmo, stakeholders e financeiro que a tratativa é sobre um tipo específico de investimento.
Outro passo importante, confira alguns exemplos de aspectos financeiros e estratégicos a serem levados em conta no cálculo: só de bater o olho do quadro adiante, você vai criar uma memória visual necessária para seguir em frente.
| Aspectos financeiros | Aspectos estratégicos |
|
|
Agora, leia esta nota de rodapé fundamental: dados ligados ao ROII devem ser coletados e organizados com periodicidade, pois calcular ROII não é algo que precisa ocorrer só no final de um projeto ou período.
Tudo certo até aqui? Finalmente, estamos chegando às fórmulas!
Escolha a matemática
Para transformar dados em números concretos, use uma das três opções de fórmulas:
- ROII = (ganhos anuais da inovação - custo total da inovação) ÷ custo total da inovação → Opção comum em empresas que gerenciam um portfólio de projetos internos e precisam comparar iniciativas entre si
- ROII = lucro proveniente de novos produtos ÷ investimento em P&D e inovação → opção para cálculo de retorno sobre novos produtos
- ROII = lucro líquido adicional gerado pela iniciativa ÷ investimento total na iniciativa → opção para empresas menores
Fora isso, meça aspectos diferentes, em diferentes estágios da sua inovação.
Adote frameworks de innovation accounting
Estou falando sobre usar métricas diferentes em cada fase da jornada de inovação, em vez de cobrar resultado financeiro completo desde o primeiro dia! (E voltarei a reforçar isso no passo a passo que encerra este artigo – por uma boa razão, prometo).
Organize as informações num dashboard
Tome a decisão depois de organizar as informações num dashboard – que pode ser simples, mas deve ser eficaz.
Obs.: seu painel precisa oferecer, de bate e pronto, a visualização do status e do potencial de cada projeto de inovação.
Sugiro adicionar a ele:
- Nome do projeto
- Objetivo/Tese de valor
- Estágio
- Investimento até o momento
- Ganho estimado (antes)
- Ganho real (observado)
- KPIs principais
- Próxima decisão
E saiba que não existe uma taxa ideal de ROI de inovação
O que existe é coerência entre tipo de inovação, risco e retorno esperado, mas, baseado em minha experiência, posso afirmar que, se seus cálculos estiverem entre 20% e 40% ao ano nas iniciativas incrementais que funcionam, o caminho é próspero.
Essa faixa tende a ficar acima do custo de capital da maior parte das empresas e próxima dos benchmarks brasileiros em que mais de 50% das organizações que medem ROI de inovação relatam retornos superiores a 30% em menos de dois anos
“Inovações incrementais? Como assim?”
Entenda-as como melhorias em processos ou produtos que já existem. Elas são projetos de menor riscos, cujo retorno pode ser comparado com custo de capital, portanto, precisam entregar algo acima do custo para valerem a pena.
Fora elas, existem as inovações adjacentes e de ruptura.
Inovações adjacentes (novos canais, segmentos e ofertas complementares) têm risco moderado, mas maior retorno potencial. O prazo de payback é mais longo, e o ROI pode variar mais porque há exploração de um novo terreno.
Inovações de ruptura, como as que existem quando uma empresa cria novos modelos de negócio, por sua vez, vão ter um ROII muito positivo em poucas iniciativas e, talvez, um negativo na maioria das movimentações – mas o retorno de ações bem-sucedidas pagará as demais.
A pergunta certa não é “Qual ROI ideal por projeto?”, mas algo do tipo “O portfólio de inovação como um todo está entregando retorno acima do custo de capital e da média do mercado?”
Vamos juntos estruturar o ROII na sua empresa? PASSO A PASSO
Se você chegou até aqui, falta pouco para expandir seus conhecimentos a ponto de tomar decisões de investimento em inovação com muito menos achismo e muito mais base em dados concretos.
Use o breve passo a passo que construí para guiar conversas com sócios, diretoria e investidores sobre quais projetos de inovação fazem ou não sentido:
1. Decida por que você quer inovar neste momento
Liste respostas honestas para essa pergunta e escolha 2-3 objetivos principais que lhe servirão como guias. Conecte cada iniciativa de inovação a um objetivo.
2. Descubra se o projeto ainda não está cru
Certifique-se de que suas decisões até aqui respondam “Qual problema de negócio essa inovação resolve”, “Qual métrica queremos melhorar?” e “Qual a hipótese de retorno?”. Se não houver resposta para essas três perguntas, o projeto ainda está cru.
3. Considere diferentes tipos de ROII em cada fase
Ao colocar a iniciativa em prática, considere que o ROII de ideia/descoberta depende da medição de aprendizado, o ROII do piloto está ligado a sinais de impacto e o ROII de escala, aí sim, levanta resultados financeiros e estratégicos
4. Coloque tudo num portfólio visível
Catalogue a quantidade de projetos e em quais áreas eles acontecem, quanto vai de dinheiro em cada um, quais os potenciais estimados de retorno e em que fase eles estão. Você terá um verdadeiro portfólio de inovação.
5. Crie um ritual de revisão
Sugiro que esse ritual seja, preferencialmente trimestral (ou bimestral, se quiser acelerar). Com as revisões, você vai perceber que projetos que:
- Dão resultado, precisam escalar
- Não dão resultado ou ensinam, precisam acabar
- Têm aprendizados claros, mesmo sem resultados, merecem novo ciclo de teste após ajustes
Aí, vai ser só você evitar cair em armadilhas comuns, como confundir adoção com impacto, ignorar o custo de oportunidade, tratar a inovação como um departamento isolado dentro do seu negócio e olhar só para as métricas que são mais fáceis de calcular e enxergar.
Outro artigo aqui do blog é praticamente o meu catálogo de métricas-chave para inovação e ROII: sugiro a leitura!
Enfim, nada do que propus durante este conteúdo depende de orçamento ilimitado ou de um laboratório futurista, apenas do tratamento da inovação como um investimento que precisa ser escolhido, acompanhado e, se necessário, interrompido, como qualquer outro
Quando você passa a usar ROII para falar de inovação e tomar decisões, suas conversas entram em outro patamar; viram discussões maduras sobre quais atitudes devem ser tomadas a seguir, então, não espere ter o modelo perfeito para começar.
Numa estratégia de construção do futuro financeiro da sua empresa, o cálculo de ROII representa uma escolha consciente de alocação de recursos.